Aconteceu no dia 26
de março a 1ª Oficina de Sensibilização e
Capacitação para o preenchimento do quesito raça/cor nas UPAS Estaduais.
Estiveram presentes profissionais da OSS Viva
Comunidade e Lagos Rio que gerenciam algumas UPAS Estaduais. O
Encontro é o primeiro dos 5 agendados para ocorrer até o mês de maio deste ano. A proposta é “Aprimorar a qualidade dos sistemas de informação em
saúde, por meio da inclusão do quesito cor em todos os instrumentos de coleta
de dados adotados pelos serviços públicos e melhorar a qualidade dos sistemas
de informação do SUS no que tange à coleta, processamento e análise dos dados
desagregados por raça, cor e etnia”, conforme preconiza a Política
Nacional de Saúde Integral da População Negra. No ensejo, cada OSS
elaborou um Plano de Trabalho
para discutir a temática e multiplicar a todos os profissionais das UPAS as
informações de como e por que perguntar a raça/cor dos usuários do SUS.
Um canal de comunicação entre usuários do SUS e Gestores do Estado do Rio de Janeiro
quinta-feira, 27 de março de 2014
segunda-feira, 17 de março de 2014
Roda de Conversa Mulheres Trans
No dia 20 de março às
15h o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDIM) realizará a “Roda
de Conversa Mulheres Trans” para abordar a questão de gênero. O espaço
é aberto para os interessados na temática e não necessita de inscrição prévia.
sexta-feira, 7 de março de 2014
Homenagem às Mulheres
Dia 8 de março celebra-se em todo o mundo o Dia Internacional da Mulher, de acordo com determinação da Organização das Nações Unidas, desde 1977. É uma data apenas, mas que demarca uma valorização que deve acontecer em todos os dias na criação de condições de vida digna e respeito para mulheres de todas idades. Fica a nossa homenagem na reprodução de um texto da poeta e atriz Eliza Lucinda. Boa leitura!
Elisa
Lucinda *
Agora
dei pra isso: volta e meia me ocorre um pensamento profundo,
uma noção nova por dentro das coisas e eu lembro logo: tenho
quarenta anos. Ando pensando
nisso todo o tempo, como quem se acostuma, como quem se relaciona
com a contagem e com as mudanças. Quarenta anos! Minhas
pernas bonitas vigorosas. Um leve amarrotado na pele dos joelhos,
mas a rótula nunca fora mesmo um lugar de beleza explícita
e não me lembro dela aos vinte anos.
Quando se
tem vinte anos, os joelhos nem sequer existem. O vigor dos passos
não nos deixa vê-los. Existem sim coxas. E coxas mais que pés
e canelas. Agora não, quarenta anos, embora não me tenham surpreendido,
trazem uma mostra do tempo fixado nas rugas dos joelhos e dos
caminhos. Tenho gostado
do tempo que gastei. Tenho andado com orgulho dele. Como se dissesse
pra mim a cada frase, a cada pé de ato: "agora sei". Como se não
tivesse dito isso aos vinte anos, aos trezes, aos dezesseis.
Das sabedorias
confirmo algumas: a minha menina não largo. Nunca larguei. Jamais
a largarei. é ela quem me faz correr, saltar, pular, brincar
nas circunstâncias, cheia de esperança sempre. Ela ri das coisas
mais simples e chora quando dói. Moleca, leva-me nova e sem objetivos
cosméticos, mas dá resultado isso.
Carrega também
a mulher em quem sonhava ser desde pequena. Era grávida dela,
daquela que engravidaria, teria filhos, maridos e por isso ensaiei
tanto com bonecas e irmãos. Essa mulher
quando se concretizou, eu estava pronta de braços abertos. Já
sabia cozinhar, amar meu homem e trabalhar meu ofício. Adoro-a
e vou levá-la para o túmulo com o prazer molhado e de temperatura
altíssima que trago no entre pernas do coração.
Depois tem
a velha, Dona Elisa. Ah, essa eu sempre ensaiei. Ensaio até
hoje exaustivamente. Olhava minha vó e já sabia desde novinha
que eu não só um dia seria, mas desejava ardentemente: ser avó.
Tive para isso no mínimo dois modelos opostos: uma animada,
paterna, macumbeira e comemorativa, e outra rancorosa, materna,
católica e dolorida. A que escolhi seguir é uma festa geradora
de dinastias.
Sempre soube
imitar-lhes a voz. Adoro velhas arrumadas e vaidosas e gostosas.
Sábias em tudo, essas velhas já eram eu desde sempre. De mãos
dadas a essas três meninas de idades diferentes, embora atemporais,
atravessei até aqui. Estamos indo bem. Rezei muito por isso. Ajoelhei
pouco. Por isso esses joelhos amarrotados não se explicam com
facilidade. Tenho quarenta anos e brinco de roda com essas senhoras
mulheres. Colheres do que fui procurando e provocando.
Olho-me no
espelho com uma incrível satisfação. A etnia me reserva um cardume
de não rugas à volta dos olhos, umas marcas de expressão provocadas
pelos risos e choros contumazes. Nenhum arrependimento: o quadro
é bom e olhar-me no espelho não é um estranhamento. é claro que
sou eu. Vigiei-me dias a fio até aqui. Gosto do que vejo. Ocorre
que o tempo é transparente, silencioso constante, sutil e competente.
Espalhafatosamente age em resultados sem que o flagremos processo.
A operação é minimalista e quem quiser assistir ao espetáculo
de transformação sem se chocar tem que ser especialista em crepúsculo.
é difícil flagrar exatamente o que seja crepúsculo. Sabe-se dele
palavra, mas de fato quando se vê, já é noite. Eu tento. Brinco
com eles: crepúsculo e tempo. Mas o que faz de mim feliz aos quarenta
é que gosto das luzes que o percurso me dá. Gosto dos prêmios.
Sei mais coisas, sou mais confortável com as regras do jogo e
sua permuta inegociável: a juventude pela sabedoria. Quer? Quero.
Agora dei
pra isso. quarenta nos. Penso nisso. E parto como se fosse nascer
amanhã mais equipada, mais aberta. De noite, no meio da poesia
chamo a menina, a mulher e a velha para uma reunião. A festa
é animada. Chama-se vida. As meninas adoram.
*Elisa
Lucinda é atriz e poeta
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